quinta-feira, 17 de maio de 2012

Galos de açúcar


Em Londres, no mais fino dos restaurantes, o pão sem guardanapo vem dentro de pequenas tinas de metal onde se pressente a ferrugem, os talheres são postos em cima das mesas, sem toalha.

Em Itália, não raras saem as fatias de piza para os pratos… com as mãos, já se sabe. Tal como em Paris, o pão é servido, na maioria das padarias, com as mãos, e assim levado por quem o compra, sem sacos ou puritanismos bacteriológicos.

Em Bruxelas, abundam bares e restaurantes com cadeiras e mesas de madeira pura, ambientes quentes, com minúsculas casas de banho de há muitos anos.

Por cá, não se sente o calor das gentes, quando, na profusão de leis impostas, tudo tem de ser lavável e “livre” de perigos para a saúde pública. Abundam, assim, o inox e o vidro - os ambientes são frios. Irritam-se empresários, arquitetos, fiscalizadores e clientes.

Condena-se a restauração a um enorme investimento, em cozinhas e sistemas de certificação, mas também ao exorcismo da qualidade de clientes que se sentam nas frias cadeiras laváveis. A restauração fica, assim, desprovida de caráter, submissa a estranhas imposições.

Querem-nos de touca, e vem isto a propósito das Festas, mas para não vendermos batatas com pimenta, e os célebres galos de açúcar estão proscritos - ou pelo menos condenados -, por decreto ou por purismo de quem tem por missão interpretar ou fazer cumprir a lei.

Algo está mal, mas o que não está mal, com certeza, é o direito de se poder continuar a comer um galinho de açúcar.

Açoriano Oriental, 17 de maio de 2012

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