quinta-feira, 26 de julho de 2012

O “entropista”


A Graciosa acolheu este fim de semana o Fórum 2012 da Câmara do Comércio e Indústria dos Açores que vai já na sua terceira edição. Aparte o que foram considerados alguns ajustes de caráter conjuntural, urgem as reformas estruturais que o empresariado destas ilhas considerou essenciais para que o setor privado, motor fundamental na economia, não definhe ante as externalidades negativas a que estamos sujeitos.

Repetem-se os apelos para a alteração na afetação dos recursos públicos, através da despesa e na configuração do novo Quadro Comunitário de Apoio; a construção de um sistema de transportes integrado e competitivo; a reafirmação do turismo como setor determinante para o crescimento económico; a revisão do processo de financiamento da economia, com soluções e reedição de soluções mais arrojadas; a imperativa necessidade de se analisar e reduzir os custos de contexto; o mar…; a revitalização urbana…; o combate à economia paralela…; e tantas outras coisas.

Fala-se da integração das ilhas no processo de desenvolvimento económico e em estratégias de ilha, consubstanciadas em planos focados.

Os candidatos às próximas eleições regionais, creio que transversalmente se a memória não me falha, das declarações que têm produzido, junto dos empresários, assinarão de cruz todas estas conclusões, até porque são óbvias, claras e consensuais. Depois, entre a teoria e a prática, está a entropia. E como poderia dizer um velho cartaz do oeste americano «’Entropista’ procura-se, morto ou vivo”.

Açoriano Oriental, 26 de julho de 2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Refundar (como começar do zero)

Nunca fui contra que cada um tire o curso que bem lhe apraz, o saber de cada um é consigo. Já o saber que é ensinado por universidades públicas é connosco e, se para este contribuímos, convém que ensinemos aquilo que estará por troca no mercado de emprego.

Isto significa que é preciso abolir por completo o marasmo e rigidez estática com que alguns universitários encaram a instituição. As universidades têm de trabalhar para o mercado de trabalho! Abrir cursos porque sempre assim foi, porque dá jeito aos docentes que lá existem, porque ajuda a fomentar a tripolaridade (mesmo quando a sinergia do tripolar é mais etérea que real) é coisa que já não dá.

Depois, temos ainda os universitários de estufa que pensam que o mundo do trabalho é como as aulas teóricas a que se há de juntar umas práticas nos tempos livres - mais intercâmbios, mais prática no mundo real, mais realidade do mundo… são precisos. E quando for necessário ir para fora, em vez de se receber por cá uma formação menos eficaz, há algum problema!? Não é por termos universidade que somos mais competentes ou autonómicos, sê-lo-emos apenas se tivermos pessoas capazes.

Recentes problemas na universidade dos Açores serão talvez o sinal de que o pesado corpo não consegue voltar-se e encarar a realidade, que não é nova. O resultado está à vista, quando na lista de empregados e desempregados se percebe onde se trabalhou com visão em relação ao mundo que nos rodeia.

Como noutras coisas, não vale a pena rodeios. Refundar é preciso.


Açoriano Oriental, 19 de julho de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Carta de Recomendação

Por muito que se tente não ir com a maré, não podemos deixar de nos interrogar sobre os assuntos mais mediáticos, posto o lugar a que chegamos, baralhados sobre a sociedade em que estamos e sobre o que queremos.

Constatamos que se mistura deliberadamente o legal com o moral, com o que se justifica o imoral que não é ilegal. Rings a bell? E verificamos que se impõem estatutos elevados a quem consegue, por via direta ou indireta, um título de “doutor” – milagreiro na aldeola dos enfatuados. Vivemos da ilusão que criamos da realidade. A aristocracia, transmutada, mantém-se, porque o propósito era criar, pelo menos, uma espécie de meritocracia, que afinal fica em parte pela teoria.

Assistimos a uma enorme falha na Saúde – pois seja o sistema privado ou público, a questão é que não acedemos todos ao mesmo. Na Educação, estamos a deixar sem opção os que não suportam financeiramente os estudos, e a geração mais bem instruída de sempre está desempregada. Tratamos de forma desigual trabalhadores do privado e do público, para o bem e para o mal. E gabava-se Portugal de ter uma constituição das mais completas do mundo… facto de esotéricas consequências.

Os visionários e os esperançosos amocham ante o sistema, que à espera de reformas já deve estar reformado, com pensão de pouca monta, pois não era aristocrata.

O gap entre os que têm e podem é aumentado dia a dia face aos outros, e isto não é uma questão de ideologias, é a realidade dos factos.

Bem-vindos ao século XXI, Portugal recomenda-se!

Açoriano Oriental, 12 de julho de 2012

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Nem tanto ao mar nem tanto ao mar

Vivemos numa sociedade de pouco comprometimento. Sem ganas de agarrar o mar ou a terra, somos pelo “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, mas este limbo existencial, que até a Santa Sé já extinguiu, apenas nos empurra vagarosamente para a frente, sem efetivamente nos catapultar. Às vezes, mar! Às vezes, terra!


A este propósito, ocorre-me que, com esplêndidas condições para o ambiental e o renovável, anunciamos com pompa, mas fomos empurrando – nem tanto ao mar… o projeto do MIT Green Islands que estará por aí, na bruma das ilhas.

Os projetos Green Island constituem casos de regiões que atendem às necessidades energéticas a partir de fontes renováveis ​​locais - ecossistemas de energia distribuída sustentável, fora das restrições do legado dos modelos industriais.

Faltou-nos aquela qualquer coisinha, que nos falta tantas vezes, para em vez de pensarmos no mero amanhã, anteciparmos o futuro como ele já parece óbvio, e incorporar, não só no “estar” mas no “ser”, o sentido de ser verde, com pequenas ilhas-laboratório fundadas em políticas estruturantes, ao mesmo tempo que o caso se tornaria de estudo. Projetos-piloto, com elevada propensão de vingarem face à realidade das ilhas. Os Açores positivamente em contraciclo com o mundo industrial.

Podendo ser ótimos, vamo-nos contentando em ser apenas algo melhor do que os outros. Não estará na altura de agarrar algumas matérias com efetiva vontade de ser muito mais do que os outros!? Não há ideias? Não há debate? Não há vontade?

Açoriano Oriental, 5 de julho de 2012